Moradores e responsáveis pelo projeto social “De Olho no Lixo” foram surpreendidos na manhã desta sexta-feira (16/11) por uma ação de desapropriação do terreno pela Prefeitura do Rio, na localidade Roupa Suja, próximo ao túnel Zuzu Angel. Agentes da SEOP e a Polícia Militar, além da COMLURB participaram da operação. O projeto, que emprega 200 pessoas da Rocinha e do Vidigal, trabalha com coleta seletiva de resíduos, com cursos gratuitos de oficinas de percussão, moda e aulas de alfabetização.

Desde 2016, os funcionários trabalham para minimizar o impacto negativo provocado pelo lixo na Rocinha. Até o momento, 3.400 litros de óleo de cozinha já foram reciclados e 888 toneladas de resíduos sólidos foram recolhidos em pontos estratégicos da Rocinha. Atualmente, o projeto também acolhe uma classe de alfabetização para adultos e aulas de inglês para os cooperados.

Sem saneamento básico, Rocinha sofre há décadas com o lixo. (Foto: De Olho no Lixo/Divulgação)

De acordo com a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), os órgãos não receberam qualquer solicitação ou notificação no sentido de cessão do espaço para a Prefeitura da Cidade do Rio de janeiro, nem autorizando a retirada do material do projeto no local. O governo classificou a operação como arbitrária e desrespeitosa com os moradores e todos os envolvidos do projeto. “O órgão estadual ambiental, junto com a Secretaria de Estado do Ambiente tomarão as medidas legais cabíveis para a permanência do projeto no local.”, informou a SEA em nota.

A coordenação do projeto lamentou a falta de sensibilidade da prefeitura que praticamente destruiu um trabalho social que vinha sendo realizado há dois anos, junto com toda estrutura e empregos gerados. “A Prefeitura não escolheu o diálogo e o Estado sequer foi notificado. Os maiores prejudicados são os moradores da Rocinha e São Conrado, além do Ambiente”,

Do lixo à cultura

Além da coleta de lixo, realizada por 30 agentes socioambientais, o projeto atuava com educação ambiental, cultura e comunicação, através dos cursos Funk Verde, com oficinas de percepção sonora confecção de instrumentos musicais confeccionados a partir da reutilização de resíduos sólidos; o e Ecomoda, onde os jovens aprendem a confeccionar roupas, bolsas e acessórios reutilizando jeans usados, retalhos, banners e até CDs. Nas aulas realizadas na Rocinha, já foram produzidos cerca de 80 instrumentos musicais e mais de 400 peças de vestuário, entre calças, vestidos, blusas, bolsas e acessórios, foram criadas.

“Amanhecemos com essa situação completamente inválida. Somos de uma instituição do Governo Estadual. O Projeto De Olho no Lixo na Rocinha tem um saldo muito positivo na área musical e da moda. Nada disso foi considerado, tampouco respeitado”, ressalta o estilista Almir França, coordenador do curso Ecomoda.

Regina Café, coordenadora do Funk Verde, ressalta que o Projeto, além da sensibilização ambiental, dá formação musical aos participantes, além da educação ambiental. “Aqui na Rocinha, já produzimos em torno de 80 instrumentos musicais, além da vasta formação humana. Formamos músicos e pessoas melhores. Temos que educar o nosso olhar para os resíduos.”, finalizou.

O que diz a prefeitura

Procurada, a Prefeitura do Rio, por meio da integração da Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP) e da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação (SMIH), informou que removeu a estrutura do projeto por causa de irregularidades.

Em outro e-mail para a SMIH, o Fala Roça questionou o que será construído no local, mas não obtivemos a resposta até o fechamento desta matéria.

“Banho de loja” na Rocinha

No início de 2018, o prefeito Marcelo Crivella, prometeu em um vídeo na página “Rocinha Alerta”, uma série de obras nas fachadas de casas na entrada da Rocinha. Nas redes sociais, moradores chamam a obra de “maquiagem”, devido a necessidade de obras emergenciais que deveriam ter dentro do morro ao invés de melhorar as fachadas de casas que ficam à margem da Autoestrada Lagoa-Barra.

“Essa fachada vai ser pintada, as esquadrias trocadas pra ficarem padronizadas, arrumadas, bonitas. Também essas marquises que estão em cima da loja e essa fiação feia, vamos trocar. Os postes, também vamos melhorar. A ideia nossa é que as pessoas quando passem pela Lagoa Barra olhem pra cá e tenham ideia de uma comunidade arrumada, bonita, de um povo trabalhador, enfim… Hoje ela está muito feinha. Então, nós vamos mudar tudo”, diz Crivella no vídeo.

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